Desespero

No vale profundo de minhas emoções me encaixo.

Entre agonias e traumas estremeço.

E no desespero exponencial me abraço,

Com um singelo silêncio, emudeço.

Não há palavra existente que exprima

O ácido a arranhar toda a garganta.

A silenciosa dor que me habita

Na infelicidade seca que me espanta.

Na vontade ali, eterna permanente

De gritar ao mundo o que me mata.

Mas a incapacidade em mim latente

Não permite, se recusa e me cala.

Fica o furacão em sua constância

A destruir a sanidade que me resta,

A engolir, sugar com toda ânsia

O que de bom em mim ainda presta.

E me contento com aquilo que consigo:

Na bondade dolorosa de meu lamentar.

As lágrimas impuras que mendigo

Ao céu, a terra, ao inferno e ao mar.

Prossigo seca e fria, dura e rígida

Como a rocha no topo do penhasco.

Rolando eternamente na descida

Interior e única de meu fiasco.

Fillipa Pino - 27.12.11

A Diferença Entre o Amor e a Paixão.

Amor não é paixão. Não! O amor, meu caro, é o orvalho e o espinho da rosa pela manhã. O amor é a virgem freira, a estrela fria a se apagar, o eclipse lunar, o poste acesso no beco escuro. O amor é o templo nublado, a brisa marina, o outono e a neve. É o arroz e feijão da sua mãe, o plano de saúde e o seguro do carro. O amor é a conta de luz no fim do mês. O amor é o divórcio, a ruga velha no rosto. É o anonimato, o não para o sonhador inconseqüente, o gelo frio na ferida. O amor é solidão contente, é o cão do mendigo. Porque o amor não é bonito, não é sublime nem intenso. O amor é nobre, tal qual o velho sábio esquecido no templo. Tudo ordena! Onde ninguém é autoridade.

Já a paixão... Ah! A paixão! É o fogo, é o calor da lava do vulcão. É a arei quente da praia. A paixão é os fogos de artifício no reveillon de Copacabana, é o carnaval da Bahia. A paixão são as compras de natal na 25 de março, é a passagem aérea para Paris, a propaganda da Coca-Cola, a surpresinha d Kinder Ovo. A paixão é o consumi, a dieta da lua, o cartão de crédito Diners Club. MAIS QUE ISSO, a paixão é a novela das 9 da Globo, é a Angelina Jolie no cimena. A paixão não é nobre! NÃO. Ah a paixão! É bonita, sublime e intensa. Tal qual o jovem modelo das cuecas Calvin Klein. Onde tudo é privado.

- Sorte daquele que se apaixona. Porque o amor é complicado de mais.

- Sorte daquele que ama, porque a conta no fim do mês é menor.

- Sorte daquele que é amado. Porque quem ama nada pede, nada exige e a nada condena.

Texto: Fillipa Pino.

Desabafo!

Não é que eu tenha perdido a habilidade de escrever. E não é que não me venha nada à mente, como se não fosse necessária a palavra. É simplesmente uma inércia, uma certa constância. Estou enforcada e presa em meu furacão particular e a única coisa que eu consigo propagar pra fora desse turbilhão é um silêncio ensurdecedor absurdo. Como nada que eu disser será suficiente para esclarecer o que realmente se passa.

Então não digo nada, e o mais bonito de minhas palavras é o branco vazio do papel e o vento.

Fim!